15 dezembro 2013

O Mundo como um Espelho

A inveja, o orgulho, a teimosia que vemos nos outros têm sólidas raízes em nós mesmos 

Nem sempre a realidade é como a percebemos. Na antiguidade grega, Esopo – 500 anos A.C – conta a história de um viajante que chegou às portas de Atenas em busca de informações. Pretendia saber como era a população da cidade. Esopo, antes de responder, quis saber como eram os habitantes de sua cidade. Sou de Argos, explicou ele, e lá as pessoas são antipáticas, mesquinhas, invejosas e por isso vim para cá. O sábio disse: infelizmente as pessoas de Atenas também são assim. Meia hora após, outro viajante apresentou-se com a mesma pergunta. De onde vens e como são os habitantes de sua aldeia? Sou de Argos, disse o viajante, e lá as pessoas são generosas, serviçais e hospitaleiras. E Esopo disse sorrindo: quem bom, pois em Atenas também as pessoas são assim!

O mundo é como um espelho e reflecte o nosso interior. Do mesmo modo como vou ao encontro do mundo, ele vem ao meu encontro. O meu mundo é o meu espelho. Assim como eu o vejo, assim eu sou. Quando eu olho para fora e falo sobre as coisas que me cercam, estou também a revelar o meu interior e a dizer muitas coisas sobre mim.

A velha sabedoria grega já sabia que tudo aquilo que recebemos, recebemos à nossa maneira. O mesmo facto ou a mesma afirmação é percebido à nossa maneira. A inveja, o orgulho, a teimosia que vemos nos outros têm sólidas raízes em nós mesmos. O mesmo vale para a bondade que está dentro de nós e se irradia sobre os demais. O mestre Eckhart constatava: “Quem estiver bem consigo mesmo, estará bem em todos os lugares e com todas as pessoas. Mas quem não estiver bem, não estará bem em nenhum lugar e com nenhuma pessoa”.

Mudando de Argos para Atenas, a pessoa continua igual. Não será a mudança de lugar que irá alterar as nossas deficiências e a nossa escala de valores. Mudando de lugar, carregamos connosco os nossos defeitos e as nossas virtudes. A primeira tentação é mudar as pessoas de Argos, mas isso não vai mudar nada. Nós continuamos os mesmos.

Existem dentro da nossa psique filtros poderosos que, aparentemente, modificam a realidade. E esses filtros funcionam em duas direcções: escondendo as nossas limitações e exagerando os defeitos dos demais. As paisagens mais sombrias estão dentro das pessoas e elas mostram um mundo cheio de sombras. O contrário também acontece: pessoas cheias de luz e harmonia descobrem realidades tranquilas e harmonizadas.

A sujidade pode estar na janela, nas lentes de nossos óculos ou mesmo no nosso interior. A preocupação de mudar o mundo, que pode ser legítima, precisa de começar dentro de nós. O Evangelho fala dos trabalhadores da vinha, que chegaram à primeira hora, mas que tinham olhos maus (Mt 20). Se teu olho for puro, tudo ao teu redor será puro, se teus olhos forem bons, tudo será bom.
A. C.

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