Quando os limites não são fixados, estamos a criar egoístas e anti-sociais
A cena teve lugar no jardim zoológico. A mãe girafa preparava-se para dar à luz e muitos curiosos presenciavam a cena. A girafa permaneceu de pé e o filhote despencou de uma altura de quase dois metros. No chão, a girafinha, ainda zonza, debatia-se, tentando ficar de pé. Depois de alguns minutos, o filhote conseguiu ficar em pé, com o aplauso da plateia. Indiferente aos aplausos, a mãe girafa deu uma patada e colocou o filhote, de novo, no chão. Mais uma tentativa do filhote e um novo coice.
A assistência ficou sem entender e colocou-se contra a mãe desalmada. O pessoal do zoológico deveria tomar alguma providência; a mãe poderia aleijar ou mesmo matar o filhote. Foi a vez do biólogo do zoológico explicar: a mãe sabe o que faz. Aparentemente é uma atitude agressiva, sem amor, mas é a maneira da mãe fortalecer as patas do filhote para que possa acompanhá-la e fugir dos predadores.
Depois da terceira tentativa e do terceiro coice, finalmente a girafinha firmou-se e correu para a mãe. Aí sim, a mãe lambeu a cria, acariciou-a e parecia dizer: parabéns, conseguiste! E mãe e filha saíram, caminhando lado a lado.
“É proibido proibir”. Esse foi o grito de guerra da revolução de maio de 1968, quando os jovens - enfants enragés - pararam a Franca durante semanas. O presidente Charles De Gaulle devolveu a tranquilidade ao país, mas o espírito da Revolução de Maio ganhou o mundo e muitas coisas não foram mais as mesmas.
Há crianças, hoje, que, da altura de seus seis ou sete anos, proclamam: mãe, não mandas em mim! Pior do que isso é quando os pais aceitam essa tirania infantil. A tirania manifesta-se também na escola, quando a professora parece ser a última que manda. E muitos pais, míopes, autorizam a rebeldia dos filhos, colocando-se contra os professores.
Quando os pais não castigam os seus filhos, a vida se encarregará de fazê-lo, diziam os gregos antigos. No passado praticavam-se castigos corporais, humilhantes e duros. Hoje todos estão contra esse tipo de atitude. No entanto, os pais têm obrigação de apontar limites aos filhos. Devem indicar o certo e o errado, os direitos e os deveres, pressupostos normais para a vida social. Quando os limites não são fixados estamos a criar egoístas e anti-sociais.
Os pais têm o dever de dizer “sim” e “não” aos filhos, na hora certa. Muitas vezes dizer não é um gesto de ternura; outras vezes dizer sim é omissão. Amar é dizer sim e não na hora certa. A distância, muitas vezes, ajuda a entender a atitude dos pais e agradecê-los.
A mãe girafa ensina-nos a firmeza e a ternura, cada coisa no tempo certo.
A. C.
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